Benchmarking -FBHA leva diretores para estudar as boas práticas de um empreendimento premiado por suas características inovadoras
Uma história encantadora de empreendedorismo na área do turismo une uma ferrovia construída na época do Brasil Império e a única cave de maturação de vinhos espumantes do mundo instalada dentro de um túnel ferroviário desativado. Estamos falando da Cave Colinas de Pedra, um empreendimento localizado em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba.
Em fevereiro, a diretoria da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) foi até o local para fazer benchmarking, um trabalho de estudo e comparação de boas práticas. Levados por seu presidente, Alexandre Sampaio, e a convite de João Jacob Mehl, presidente do Sindicato Empresarial e Hospedagem e Alimentação de Curitiba (Seha), o grupo foi recebido por Ari Portugal, fundador do projeto e, consequentemente, a melhor pessoa para contar a história da realização de um sonho que teve início em 1999, com a compra do terreno de 45 hectares, e só foi concluída em 2015.
“A ideia inicial era construir uma pousada ecológica, mas, após a aprovação do projeto, percebemos que o túnel ferroviário, desativado, que havia sido adquirido quase na mesma época do terreno, mantinha uma temperatura constante ao longo do ano, uma excepcionalidade perfeita para a maturação de vinhos espumantes. Postergamos a construção da pousada para investir em um audacioso projeto de maturação e processos finais de vinhos espumantes dentro de um túnel”, afirma Portugal, que toca o negócio com a família e 10 funcionários.
O negócio é composto por uma casa principal, a Estação Roça Nova, onde funcionam a recepção, o restaurante e a loja de espumantes; uma litorina da década de 1960, que está prestes a ser inaugurada como vagão gourmet; diversos pequenos ambientes de estar distribuídos em gazebos ao ar livre e uma imensidão de área verde – além, é claro, da atração principal: o túnel de maturação de vinhos.
Na casa principal, dois pequenos e charmosos salões funcionam como um restaurante, mas é preciso fazer reserva para aproveitar as delícias servidas pela esposa de Ari: não há rodízio de mesas, e, por isso, o restaurante atende a apenas 60 pessoas por dia, nos finais de semana. O buffet é livre e, segundo a fama do local, a repetição dos pratos é quase obrigatória.
Em meio aos jardins, um vagão de trem. Imponente, em seu design da década de 1960, a litorina, fabricada na Filadélfia, adquirida em um leilão e restaurada pelo empresário, está prestes a ser inaugurada como um vagão gourmet. Nele, serão servidos chás, cafés, chocolate quente e, claro, espumantes.
Um pouco mais adiante, uma trilha conduz o visitante ao túnel – o único no mundo que funciona como uma cave, e que, embora tenha sido construído em 1883, devido à sua localização e condições geográficas e climáticas, parece ter sido feito sob medida para o negócio que só surgiria ali 130 anos depois.
O túnel possui uma extensão total de 429 metros. Para vencer os primeiros 154 metros e chegar à cave, o visitante embarca em uma plataforma elétrica, capaz de transportar até 15 passageiros por vez. Lá dentro, em dois pontos, portas do tipo “cofre forte” isolam a área destinada à maturação dos espumantes – que hoje tem capacidade para armazenar até 50 mil garrafas, mas que pode chegar, considerando uma área destinada a uma cave reserva, a 500 mil. Nos finais de semana, o empresário realiza até quatro idas por dia ao túnel, levando pequenos grupos para visitas e uma aula de História do Brasil.
A Cave Colinas de Pedra realiza a guarda, maturação e processos finais do vinho espumante em um método conhecido como Champenoise, que compreende seis fases: rèmuage, dégorgement, adição do licror de expedição, rolha, gaiola e rotulagem. A primeira fase de elaboração do espumante é feita pela Cave Geisse, uma tradicional vinícola localizada em Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul.
Em 2012, ainda antes da entrada em operação, o projeto foi apresentado no II Congresso Latino Americano de Enoturismo, em Bento Gonçalves, e foi informalmente eleito o “case inédito” do evento. A temperatura praticamente constante dentro do túnel (16° no inverno e 17° no verão) chamou a atenção principalmente dos franceses. No ano seguinte, o empreendimento, pauta de documentário produzido por uma rede de televisão alemã, foi exibido em toda a Europa. Ainda em 2013, pesquisadores da Chaire Unesco Culture et Traditions du Vin visitaram a Cave com o objetivo de apresentá-la durante o Rencontres du Clos-Vougeot, um evento realizado pela Unesco em Dijon, na França. O projeto também foi apresentado no 37° World Congresso of Vin and Wine, realizado em Mendoza, na Argentina.
Os diretores da FBHA ficaram surpreendidos pela história e o cuidado de Ari Portugal com a administração do empreendimento. O presidente da entidade, Alexandre Sampaio, ressaltou a importância de atitudes como a do empresário, principalmente no atual momento do País: “É preciso estimular o turismo interno, sobretudo agora que o Brasil tornou-se um destino altamente atraente para os estrangeiros, pois isto movimentará a economia nacional e fará entrar divisas nos caixas do País”, disse.
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